Alexandre Pais

Eu vi, eu estava lá

E

Foi penoso ler e ouvir tantas elucubrações sobre o ‘25 de novembro’ saídas da boca de quem ‘ouviu dizer’ e, a partir daí, opina segundo as suas preferências políticas.
Ainda há meia dúzia de anos, um antigo colega de redação do ‘Diário de Lisboa’ publicou um livro em que branqueava o que se passou nesse dia negro de 1975, na Emissora Nacional, onde as chefias legítimas foram mandadas para casa e substituídas por golpistas – que a fazer fé na versão posterior de Zita Seabra (na altura dos factos destacada dirigente do PCP), estariam ‘à espera da chegada das armas’. Daí que seja sempre possível, à medida que vamos ficando sem testemunhas, reescrever a história.
Não posso aqui referir a multiplicidade de delírios e falsidades que fui ouvindo nos diversos canais de TV, pelo que me foco apenas no que foi dito sobre a manifestação de julho de 1975, que encheu a Alameda D. Afonso Henriques – da Fonte Luminosa à escadaria do Técnico.
Essa ‘manif’, que fez prova do apoio popular aos militares ligados ao Grupo dos Nove – e a Ramalho Eanes e a Jaime Neves – foi, de facto, convocada pelo PS, mas juntou muita gente afeta ao PSD e ao CDS, já que os seus líderes, Sá Carneiro e Freitas do Amaral, tiveram de sair de Lisboa, o primeiro para alegado tratamento médico em Londres, o segundo ausentando-se para ‘parte incerta’.
Sim, não foi só o protesto de um partido guiado pela coragem física e intelectual de Mário Soares, foi o grito de revolta de largos milhares de portugueses, com e sem partido, que defenderam a democracia e a liberdade. Eu vi, eu estava lá.

Alexandre Pais

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